Estudo de Pesquisadores da Uema revela hibridização inédita entre espécies de raposas no Brasil


Por em 8 de março de 2024



       

Em uma recente pesquisa publicada no Journal of Heredity, o professor Dr. Fabrício Silva Garcez, egresso do curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Maranhão (Uema) e atualmente pesquisador da mesma universidade, juntamente com a pesquisadora e professora Dra. Ligia Tchaicka, revelaram descobertas surpreendentes sobre hibridização entre duas espécies de raposas no Brasil.

O estudo, intitulado “Phylogeographic analyses of an endemic Neotropical fox (Lycalopex vetulus) reveal evidence of hybridization with a different canid species (L. gymnocercus)”, é o resultado de quase duas décadas de pesquisa colaborativa entre diferentes instituições e áreas de conhecimento.

A pesquisa teve origem com a professora Ligia Tchaicka durante seu doutoramento, quando decidiu investigar um grupo pouco estudado na época: as raposas da América do Sul. Por meio da análise de DNA, a pesquisa inicial revelou a história evolutiva do grupo, incluindo sua distribuição pelo continente, a quantidade de espécies presentes e suas relações de parentesco. Uma descoberta significativa foi que as raposas sul-americanas surgiram há cerca de 1 milhão de anos, antes até mesmo da nossa própria espécie, o Homo sapiens.

Uma descoberta foi feita durante essa pesquisa inicial: alguns indivíduos não se agrupavam geneticamente com sua própria espécie, apesar de terem sido coletados na mesma região geográfica. Isso levantou questões sobre a possibilidade de hibridização entre espécies de raposas.

A recente pesquisa liderada por Fabrício Silva Garcez, com base nessa descoberta anterior, coletou amostras de DNA das duas espécies de raposas envolvidas por toda sua distribuição no Brasil. Os resultados revelaram evidências inéditas de cinco indivíduos, todos coletados em São Paulo, que apresentavam sinais de hibridização entre as duas espécies.

Essa descoberta marca o primeiro registro documentado de hibridização entre espécies de canídeos na América do Sul. Além disso, o estudo sugere que esse processo de hibridização ocorre em uma região específica, criando uma “zona híbrida” onde as duas espécies se encontram.

Acredita-se que o desmatamento constante da Mata Atlântica pode ter sido um fator determinante para o surgimento dessa zona híbrida, permitindo a expansão das populações e o encontro entre as espécies que historicamente tinham distribuições separadas.

Essas descobertas levantam preocupações sobre o impacto das atividades humanas no meio ambiente e na história evolutiva das espécies. O desmatamento e a urbanização intensa podem estar interferindo em processos naturais que existem há milhões de anos, ameaçando a sobrevivência das espécies de raposas estudadas.

Novos estudos estão em andamento para entender melhor esse fenômeno e propor medidas de conservação para proteger as duas espécies de raposas. A pesquisa destaca a importância da colaboração entre diferentes instituições e pesquisadores para entender e preservar a diversidade biológica do planeta.

Fabrício Silva Garcez expressou profunda gratidão aos colaboradores, em especial ao seu orientador na pesquisa, o Prof. Dr. Eduardo Eizirik (PUCRS), e à professora Ligia Tchaicka. Tendo sido seu primeiro orientado de iniciação científica durante a graduação na Uema, ele reconhece a importância do trabalho pioneiro de Ligia Tchaicka para as descobertas alcançadas. “Estou imensamente feliz por ter vivenciado essas descobertas e poder compartilhá-las com a comunidade. Esta parceria é um exemplo do poder da pesquisa colaborativa na ampliação do conhecimento científico e na conservação da biodiversidade”, destacou Fabrício Silva Garcez.

Por: Karla Almeida

Crédito da foto: Daniel Luis Zanella Kantek



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