Curso de Letras do Campus Caxias realiza III CIPLIM em homenagem aos 200 anos de Gonçalves Dias
Por Assessoria de Comunicação Institucional em 15 de agosto de 2023
Foi realizado nos dias 10 e 11 de agosto no Auditório Leôncio Magno, Campus Caxias, o III CIPLIM (Ciclo de Palestras em Literatura Maranhense), em homenagem ao bicentenário de nascimento do escritor caxiense Gonçalves Dias (1823-1864). A coordenação foi da Profa. Dra. Solange Santana Guimarães Morais, diretora dos Cursos de Letras. O evento teve o apoio do NuPLiM (Núcleo de Pesquisa de Literatura Maranhense), LICLE (Liga Interdisciplinar dos Cursos de Letras) e LAMID (Literatura, Arte e Mídia).
A palestra de abertura ficou a cargo do Bacharel em Comunicação Social Luís Carlos Amaral, de Cantanhede, Maranhão. Ele falou da relação de Gonçalves Dias com a família Leal, uma das quatro famílias colonizadoras da cidade de Cantanhede (fundada pelo português Faustino Mendes Cantanhede em 1720). “O coronel Antônio Henriques Leal teve três filhos. E destes surgem três primos que entram na vida de Gonçalves Dias: Ana Amélia, Henriques Leal e Alexandre Teófilo. Essa família alberga Gonçalves Dias em São Luís e Coimbra. O fato de Gonçalves Dias se apaixonar por Ana Amélia e a mãe dela não aceitar isso e Gonçalves Dias não fugir com ela, evitando contrariar a família que o acolheu é que gera toda a história de poesia dele”, explicou.
Em seguida fez-se a mesa redonda “As correspondências ativas de Gonçalves Dias”, com a Profa. Dra. Solange Morais e a mestranda Nadja Hedra de Queiroz Lima. Nadja Hedra disse: “As pessoas com quem ele mais se correspondeu foram Alexandre Teófilo de Carvalho Leal (95 correspondências), Antônio Henriques Leal (44 cartas) e Guilherme Schuch de Capanema (46 missivas). Sobre as de Teófilo (que recebia suas cartas repletas de segredos), várias se perderam no naufrágio em que o poeta morreu. Quanto a Antônio Henriques, foi o primeiro biógrafo de Gonçalves Dias”, ressaltou.
Segundo a mestranda, Gonçalves Dias foi o relator oficial de D. Pedro II (25 correspondências). Ele viajava pelo Brasil analisando a situação das escolas. Um recurso usado em seus escritos era a etopoiética (falar de si, uma materialização da memória). “Percebemos o veio poético nas correspondências. Uma escrita intensa. Falava sobre sua saúde como se estivesse prevendo a própria morte”, citou.
A professora Solange se manifestou: “Gonçalves Dias também causa humor. Era irônico, sarcástico. Tenta manter uma relação com o outro através das cartas. Estudando as cartas encontramos informações de vários lugares. O que ele assimilou, ele passou para sua escrita”, revelou.
Entre as diversas comunicações apresentadas podemos citar ”A canção do Tamoio – o arquétipo do herói na poesia indianista de Gonçalves Dias” e “Gonçalves Dias e a representação da cidade”. Também viu-se exposição de pôsters com assuntos como “Vida e obra de Gonçalves Dias em Linguagem Cênica” e “O Canto do Piaga: as imagens da colonização no poema de Gonçalves Dias”.
À tarde ocorreu a mesa redonda “Poesia indianista de Gonçalves Dias”, com a Doutora em Teoria da Literatura, Silvana Maria Pantoja dos Santos e o Professor Me. em História do Brasil, Francinaldo de Jesus Morais.
“Quando, na vida do índio, nos defrontamos com a realidade percebida na antropofagia e de ir contra os inimigos, surge a pergunta: isso é barbárie ou é cultura? No poema “O Canto do Guerreiro” o declamar dos versos lembra o ritmo dos atabaques. Gonçalves Dias destrói, diante dos europeus, a imagem que se tinha dos nossos povos originários”, disse Silvana Pantoja.
Para o professor Francinaldo Morais, que fez uma reconsideração histórica “O Brasil queria se formar como um reino, mas qual etnia ia prevalecer? Não podia ser o escravo nem o branco, restando o índio, um herói nacional. Gonçalves Dias foi etnólogo (observa as diferenças entre as sociedades) e não etnógrafo (estudo descritivo da cultura dos povos, sua língua, raça). O indianismo de Dias se aproxima de outros: índio livre, o herói honrado, amante da natureza”, frisou.
A mesa redonda seguinte tratou de “Poesia Lírica de Gonçalves Dias”, com Valéria do Carvalho Santos, mestranda em Teoria Literária e Ana Cléia Silva Pereira, Mestre em Teoria Literária. Ana Cléia se pronunciou: “Gonçalves Dias foi o primeiro poeta a se identificar com a causa romântica, trata da sentimentalidade. Há uma aproximação entre amor e morte. No poema “Olhos Verdes” há melancolia, valorização da natureza e pessimismo por não ter a mulher amada”, detalhou.
“Para a crítica, ele esteve próximo dos cânones, se inspira neles e na sua terra. Coloca[i]sua cara, seu estilo nas produções românticas”, informou Valéria Santos.
À noite foi proferida a palestra “Descortinando o Teatro Gonçalvino: Um olhar sobre as peças Beatriz Cenci e Leonor de Mendonça”, com o Prof. Dr. em História, Elizeu Arruda de Sousa.
“Muitos pensaram que Gonçalves Dias faria apenas um teatro indigenista ou lírico, mas ele surpreende, mostrando sua versatilidade. Teve influenciadores como Victor Hugo. A presença feminina é forte nessas duas peças. Beatriz Cenci foi uma das mulheres mais retratadas na época (pintura, teatro, etc). Quando Gonçalves levou a peça ao Conservatório dramático ela foi recusada, pois a consideraram imoral (a história do pai que cobiça a filha)”, detalhou.
Ele prosseguiu; “Leonor de Mendonça é a peça dele mais representada. Mostra a questão do inconsciente, criando um clima gótico, misterioso. Um drama histórico”.
No dia 11/08, à noite, houve a encenação da peça teatral “Duzentos anos de Dias e de Gonçalves”, com o Grupo TEALE (Teatro Acadêmico de Letras), sendo texto e direção do professor Elizeu Arruda. Antes da peça o elenco recebeu a visita da escritora Ana Miranda, autora do livro “Dias e Dias”.
Também participaram do evento o artista plástico Sid Sertão e o fotógrafo David Sousa, com a exposição “Tecer Gonçalves Dias”. Eles mostraram produtos artesanais referentes ao bicentenário do poeta.
Para a professora Solange Morais, coordenadora do III CIPLIM, “A obra de Gonçalves Dias oferece muitos recursos para pesquisa, em vários gêneros. Espero que o interesse pela literatura maranhense seja mantido. É coisa nossa, são muitas possibilidades de conhecimento e troca”, concluiu.
Por: Emanuel Pereira