Pesquisa mostra a distribuição mundial das minhocas e a sua importância para o solo


Por em 25 de junho de 2020



DSC_0023As mudanças climáticas podem causar alterações significativas nas comunidades de minhocas no mundo todo, ameaçando as diversas funções ecológicas que elas exercem. Esse é um dos principais resultados do estudo que teve a participação do Prof. Dr. Guillaume Xavier Rousseau e do recém doutor Luís Hernández, ambos do Programa de Pós-Graduação em Agroecologia da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).

​”As minhocas tem grande importância, desempenhando funções ecológicas e ambientais, juntamente com formigas, cupins, besouros, etc. Elas são fundamentais à saúde do solo e agricultura, promovendo serviços ecossistêmicos, como a infiltração de água e a ciclagem de nutrientes”, explicou o Prof. Dr. Guillaume Rousseau.​

De acordo com a atividade e a estratégia alimentar, as minhocas podem ser classificadas em diferentes categorias ecológicas, as quais caracterizam o comportamento destes organismos nos ecossistemas. “Elas contribuem para a manutenção da fertilidade do solo, porque constroem e mantém a estrutura do mesmo, baseada em macroagregados resistentes, liberam os nutrientes contidos na matéria orgânica do solo e protegem fisicamente essa matéria orgânica no interior de coprólitos (fezes) compactos”, acrescentou o professor.​

DSCF0823Devido a essa importância e às ameaças que pesam sobre elas, os pesquisadores estudam a distribuição e o papel ecológico das minhocas no Estado. ​“A ocorrência e a distribuição das comunidades de minhocas dependem principalmente do clima, em especial das chuvas. Essa foi uma das principais conclusões do estudo. Já se esperava que a umidade fosse um dos principais fatores influenciando a ocorrência desses animais. O problema é que as mudanças climáticas já alteram o padrão de chuvas e vão alterar mais ainda com uma redução prevista de 30% para a região. Assim as populações de minhocas são diretamente afetadas e consequentemente a qualidade do solo”, detalhou o Dr. Luís Hernández.

​Sem o trabalho de decomposição das minhocas, alguns nutrientes demorariam muito mais tempo para serem mineralizados e não retornariam facilmente ao ciclo da vida, se tornando escassos e inviabilizando a vida na Terra como a conhecemos. Nesse contexto, a agricultura tem que mudar e adoptar práticas de conservação do solo que mitigam os efeitos negativos de um clima mais quente e seco como o plantio direto e sistemas agroflorestais.

​Durante os estudos descobriram, por enquanto, oito espécies novas de minhocas no Maranhão, o que causou ainda mais alerta, porque isso significa que cada local tem minhocas específicas que podem desaparecer e não serem substituídas por outras. Nessa situação, se perdem funções essenciais do no solo. “Para entender realmente a biologia do solo e como funciona o ecossistema, precisamos identificar as espécies. Por exemplo, tem minhocas de tamanhos diferentes que tem funções diferentes. Para identificar uma espécie de minhoca tem que dissecar, abrir a minhoca, olhar os órgãos internos e comparar uma com a outra. É um trabalho difícil e, por isso poucas pessoas fazem isso no mundo. No Brasil, temos somente dois taxônomos de minhoca, e um deles é o Luís aqui na UEMA”, garantiu o doutor Guillaume.

​“Por termos identificado essas espécies recentemente, ainda não conhecemos as funções ecológicas delas. Estamos trabalhando nesses detalhes”, concluiu doutor Luís.

​“Os invertebrados do solo, como as minhocas, são os principais engenheiros da estrutura física do solo e são responsáveis por mediar serviços ecossistêmicos essenciais como a produção de solo, a ciclagem dos nutrientes e a produção vegetal. Embora os sistemas agrícolas tenham uma biota do solo diferente em abundância e composição do que os ecossistemas naturais dos quais eles derivam, sabe-se que as funções ecológicas da biota original devem ser conservadas para garantir sua sustentabilidade, especialmente em solos com grande fragilidade estrutural como é o caso do Maranhão”, finalizou doutor Guillaume.

​O estudo tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Revista Science
O estudo foi publicado na Revista Science: “Global Distribution of Earthworm Diversity”. O artigo reuniu dados do Maranhão, do Brasil e de mais 57 países. Foram mais de 140 pesquisadores do mundo todo que compilaram a maior base de dados global sobre minhocas, com 6.928 locais. Das 134 instituições envolvidas, quatro são brasileiras: além da UEMA, a Universidade Positivo (UP), a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) e a Embrapa. No Maranhão, foram 150 áreas amostradas. A compilação da pesquisa foi liderada por cientistas da Alemanha (German Centre for Integrative Biodiversity Research e Universidade de Leipzig).​

O estudo mensurou as comunidades de minhocas por meio de três parâmetros: riqueza de espécies (quantas espécies diferentes foram encontradas no local); abundância (quantidade de indivíduos) e biomassa (peso, registrado em gramas, de todas as minhocas encontradas).

Veja as novas espécies descobertas e descritas no Maranhão:
1. Righiodrilus gurupi (http://dx.doi.org/10.11646/zootaxa.4242.2.11)
2. Holoscolex fernandoi (http://dx.doi.org/10.11646/zootaxa.4496.1.35)
3. Holoscolex dossantosi (http://dx.doi.org/10.11646/zootaxa.4496.1.35)
4. Holoscolex alatus (http://dx.doi.org/10.11646/zootaxa.4496.1.35)
5. Brasilisia punki (http://dx.doi.org/10.11646/zootaxa.4496.1.36)
6. Arraia nelmae (http://dx.doi.org/10.11646/zootaxa.4496.1.36)
7. Andiorrhinus (Turedrilus) miricuri (http://dx.doi.org/10.11646/zootaxa.4496.1.37)
8. Andiorrhinus (Turedrilus) barrosoi (http://dx.doi.org/10.11646/zootaxa.4496.1.37)

Por Paula Lima



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