Pesquisa histórica trata da assistência às crianças desvalidas e abandonadas pela Santa Casa de Misericórdia do Maranhão


Por em 2 de setembro de 2024



A dissertação intitulada “Os Expostos da Santa Casa de Misericórdia do Maranhão: assistência à infância desvalida no século XIX”, de autoria de Denilson Costa Pinheiro, sob a orientação da Profa. Dra. Elizabeth Sousa Abrantes, é fruto do Mestrado em História (PPGHIST) da Universidade Estadual do Maranhão (Uema) e se destaca por lançar luz sobre a assistência às crianças desvalidas e abandonadas pela Santa Casa de Misericórdia do Maranhão, instituição que desempenhou um papel crucial no século XIX.

A pesquisa, que teve origem ainda na graduação de Denilson, durante sua iniciação científica, investigou inicialmente a prática de concessão de dotes de casamento a moças pobres e órfãs pela Santa Casa. Esse trabalho resultou em uma monografia e, posteriormente, evoluiu para o estudo no mestrado, focado na assistência às crianças desvalidas na Roda dos Expostos (estabelecimento da Santa Casa).

“Continuei com a mesma perspectiva de análise no mestrado, desta vez analisando a assistência às crianças desvalidas que eram abandonadas na Roda dos Expostos. Atualmente, continuo com o mesmo trabalho no Doutorado, utilizando-me de novas problemáticas, objetivos, fontes e recorte temporal”, explicou Denilson.

O objetivo central da pesquisa foi analisar as práticas assistencialistas da Santa Casa, desde o cuidado inicial até a adoção ou o encaminhamento das crianças para outras famílias. O estudo também abordou a importância de se aproximar a teoria da prática, resultando no desenvolvimento de um Produto Educacional, o conto “O álbum de Dona Antônia e as memórias que não podem ser esquecidas”.

“Esta obra busca não só recuperar memórias esquecidas, mas também educar jovens sobre seus direitos e deveres na sociedade, além de oferecer uma reflexão sobre a história local”, destacou o pesquisador.

O enredo do conto está dividido em três partes. A primeira analisa a importância da Santa Casa de Misericórdia do Maranhão e da Casa dos Expostos; a segunda narra a assistência e educação da Casa dos Expostos às crianças desvalidas; e por fim, a terceira trabalha a questão dos direitos conquistados à infância no Brasil.

A aplicação do produto educacional foi realizada no C.E. Sotero dos Reis, uma escola situada em um local historicamente significativo para o estudo. Durante a atividade, os estudantes foram introduzidos à história da Santa Casa de Misericórdia, despertando neles um interesse renovado por uma parte da história de sua própria comunidade, que muitas vezes é ignorada nos currículos tradicionais. “Os alunos referiam-se à Santa Casa de Misericórdia do Maranhão somente aos seus serviços hospitalares, desconhecendo sua história mais ampla”, relatou Denilson.

A pesquisa contou com a colaboração de importantes órgãos públicos, como o Arquivo Público do Estado do Maranhão (APEM) e o Arquivo do Tribunal de Justiça do Maranhão (TJMA), entre outros, que forneceram documentos essenciais para a análise. A experiência de imersão em locais históricos, como a Igreja de São Pantaleão, que abrigou a Roda e Casa dos Expostos, foi fundamental para inspirar a elaboração do conto e da dissertação.

A Profa. Dra. Elizabeth Abrantes, orientadora do projeto, destacou a relevância do estudo para a historiografia local, especialmente por abordar temáticas pouco exploradas, como a prática dotal e a assistência a mulheres e crianças desvalidas pela Santa Casa. “Essas pesquisas desenvolvidas pelo autor representam uma importante contribuição à historiografia maranhense que até então estava carente de estudos sobre a prática dotal realizada por instituições de caridade como a Santa Casa de Misericórdia do Maranhão”, pontuou a professora.

Sobre os resultados, o pesquisador frisou que existe uma necessidade de paradidáticos que trabalhem a História do Maranhão e um ensino que esteja voltado à realidade dos alunos. Os professores também precisam de uma formação que oriente esse saber em sala de aula.

“Ao longo da aplicação do Produto Educacional foi perceptível que os alunos possuíam mais interesse pela história daquilo que fazia parte de suas vivências, por morarem perto de algum estabelecimento citado no conto, por já terem visitado alguns desses espaços ou até mesmo por ser trajeto da ida para escola, como muitos relataram sempre passarem onde foi instalada a Roda dos Expostos, mas que desconheciam sua história. É necessário o fortalecimento do exercício de que a Santa Casa foi mais que um hospital, por muitos desconhecerem a história da instituição esse imaginário foi preservado e difundido”, ressaltou.

Ele, ainda, complementou: “o ensino de História do Maranhão precisa estar presente nos espaços escolares, os estudantes possuem um ensino que ainda é muito distante de suas realidades, vivências e identidades. A elaboração de Produtos Educacionais torna-se imprescindível ao saber histórico. É necessário compreender as necessidades dos alunos, entender o conhecimento e vivências que eles levam para a sala de aula. Dessa forma, o Álbum de Dona Antônia e as memórias que não podem ser esquecidas (2023) é uma tentativa de potencializar esse saber, relacionando a História Local com o passado e presente, utilizando-se de diferentes linguagens para alcançar esse objetivo”.

O trabalho de Denilson Pinheiro é um marco não apenas em sua carreira, mas também na história da Santa Casa de Misericórdia do Maranhão, que completou 400 anos em 2023. A dissertação e o produto educacional “O álbum de Dona Antônia e as memórias que não podem ser esquecidas” são contribuições valiosas para a compreensão da história social do Maranhão e para a formação crítica de jovens estudantes.

Prêmio Uema de Teses e Dissertações 

A pesquisa foi uma das premiadas no VII Prêmio Emanoel Gomes de Moura de Teses e Dissertações da Uema.

O reconhecimento da Uema com o prêmio ressalta a relevância do trabalho de Denilson Pinheiro, que não apenas contribui para a historiografia maranhense, mas também promove uma conexão vital entre a academia e a educação básica. “É gratificante, porque é uma iniciativa vinda da universidade que fazemos parte e isso torna a premiação mais especial”, afirmou ele, ao refletir sobre a importância da premiação em sua trajetória acadêmica.

Para a professora Elizabeth, a premiação da pesquisa é um reconhecimento da qualidade da pesquisa desenvolvida pelo historiador Denilson Pinheiro, da importância do investimento em pesquisa feito pela Uema, que oportuniza aos estudantes o contato com a investigação científica desde os anos iniciais da sua formação até a formação continuada em nível de mestrado e doutorado.

“Essa premiação no âmbito da pós-graduação da Uema é um grande incentivo aos pesquisadores, seja como orientadores ou autores da pesquisa, aos grupos de pesquisa envolvidos no estudo das temáticas analisadas, fortalecendo a ciência desenvolvida no Estado do Maranhão”, finalizou ela.

Por: Paula Lima



Últimas Postagens