Pesquisa da Uema revela aspectos epidemiológicos da raiva no Maranhão
Por Assessoria de Comunicação Institucional em 15 de agosto de 2024
Uma pesquisa inovadora realizada por Eric Takashi Kamakura de Carvalho Mesquita, como parte de seu Doutorado em Ciência Animal na Universidade Estadual do Maranhão (Uema), lança luz sobre os “Aspectos epidemiológicos da raiva em áreas de foco no Estado do Maranhão”. A pesquisa foi uma das premiadas no VII Prêmio Emanoel Gomes de Moura de Teses e Dissertações da instituição.
O estudo, orientado pelo Prof. Dr. Francisco Borges Costa, tem como objetivo principal identificar, por meio do sequenciamento genético, as variantes de raiva circulantes no estado, além de analisar a dinâmica do vírus, identificar os animais reservatórios e comprovar a eficácia da técnica de RT-PCR no diagnóstico da doença.
“A raiva é uma doença viral aguda que afeta mamíferos, causada por um vírus de RNA pertencente à família Rhabdoviridae e gênero Lyssavirus. Transmitida através da mordida ou arranhão de um animal infectado, a raiva é uma das doenças infecciosas mais estudadas cientificamente. Estima-se que cause cerca de 60 mil mortes anuais no mundo, com maior prevalência em regiões sem medidas de controle efetivas. No Brasil, cinco variantes do vírus já foram identificadas”, explicou Eric.
A pesquisa utilizou amostras de animais suspeitos de infecção por raiva, enviadas pelas vigilâncias epidemiológicas dos municípios do Estado, pela Agência Estadual de Defesa Agropecuária do Maranhão (Aged-MA) para o laboratório de raiva. Além destes materiais, foram coletadas amostras de animais atropelados nas rodovias do Estado e captura de morcegos. Essas amostras foram analisadas pela técnica da imunofluorescência direta e RT-PCR. As amostras positivas foram enviadas para sequenciamento genético na USP e Instituto Pasteur para identificação do tipo do vírus. Algumas análises foram realizadas em parceria com a Universidade de Tókio.
De acordo com Eric, alguns fatores foram determinantes para o surgimento da pesquisa. “O Maranhão é endêmico para raiva por estar em uma zona de transição da Amazônia Legal e o Cerrado; ter ocorrido um surto de raiva humana em 2005 transmitida por morcegos hematófagos (episódio inédito no mundo). Além disso, eu sou fiscal estadual agropecuário e trabalho com raiva desde 2006; e a necessidade de mostrar para a sociedade e poder público a grande importância do Maranhão na epidemiologia da raiva no Brasil; e tornar o Maranhão referência no estudo da raiva”, disse ele.
Os resultados mostraram que 74% das amostras foram positivas na imunofluorescência direta e 63% na PCR. Entre as amostras negativas na imunofluorescência, 19% foram detectáveis para o vírus da raiva na PCR. Das positivas em ambos os testes, 28% tiveram sucesso no sequenciamento, identificando variantes antigênicas de Desmodus rotundus e Cerdocyon thous. A variante de morcegos predominou no bioma amazônico, enquanto a de canídeo silvestre foi mais prevalente no cerrado.
“A RT-PCR é uma grande ferramenta no diagnóstico da raiva, mostrando ser muito precisa no diagnóstico, possibilitando maior rapidez e segurança no diagnóstico, fazendo com que a prova biológica de inoculação em camundongos seja substituída por esta técnica”, frisou Eric.
A pesquisa resultou na implantação do diagnóstico da raiva por RT-PCR no Instituto Osvaldo Cruz/Laboratório Central de Saúde Pública do Maranhão (IOC/Lacen), tornando-o laboratório de referência regional. “Identificamos que os principais transmissores da raiva no Maranhão são os morcegos hematófagos e as raposas. Com a identificação do tipo gênico do vírus da raiva podemos dar suporte para as ações de vigilância epidemiológica para ações em focos de raiva tanto humana como animal. Por conta disso, o Estado do Maranhão começa a aparecer como referência no estudo da raiva no nível nacional”, destacou ele.
A pesquisa incluiu atividades de campo na capital e interior do estado. Um exemplo foi a investigação de um caso de raiva humana em Chapadinha, onde uma raposa foi identificada como transmissora, inicialmente suspeita de alergia vacinal e posteriormente de transmissão por um gato.
Eric ressaltou o prazer em realizar o estudo: “foi muito prazeroso realizar esta pesquisa, pois eu já trabalhava com raiva desde 2006, porém na área da epidemiologia. Por meio da pesquisa hoje eu trabalho na raiva com o diagnóstico. Como aprendizado ficou o aperfeiçoamento do diagnóstico por meio da RT-PCR, que possibilitou um grande avanço do diagnóstico no Maranhão e no Brasil, uma vez que participamos junto com o Instituto Pasteur na homologação do protocolo que será utilizado por todos os estados, coisa que hoje só o Maranhão, São Paulo e Paraná realizam”.
Para o Prof. Francisco, “os resultados ajudam a vigilância epidemiológica para tomada de decisão quanto ao controle e prevenção da raiva no Estado do Maranhão”.
O professor ainda realçou que “a pesquisa abordou questões importantes relacionadas a raiva no contexto de Saúde Única, visto que os resultados possibilitaram o conhecimento da dinâmica epidemiológica da raiva, bem como a formação de recurso humano tecnicamente qualificado para implantação do Laboratório de Virologia para Diagnóstico da Raiva no LACEN-MA”.
A pesquisa de Eric Takashi Kamakura de Carvalho Mesquita não apenas avançou o conhecimento sobre a raiva no Maranhão, mas também implementou melhorias práticas no diagnóstico da doença, contribuindo para a saúde pública e epidemiologia. Esse estudo reforça a posição do Maranhão como referência nacional no estudo da raiva.
Prêmio Uema de Teses e Dissertações
A pesquisa de Eric ganhou o Prêmio Emanoel Gomes de Moura de Teses e Dissertações, reconhecendo um trabalho de quase 20 anos. “É o reconhecimento do Maranhão como referência no estudo da raiva no Brasil”, afirmou.
O Prof. Francisco Borges Costa ressaltou a importância da pesquisa para a comunidade acadêmica e a sociedade, destacando o papel pioneiro de Eric em estabelecer padrões de qualidade e inovação.
“O reconhecimento público desta pesquisa não apenas incentiva o discente premiado, mas também promove a visibilidade do Programa de Pós-graduação em Ciência Animal, demonstrando seu compromisso com a excelência acadêmica e a produção de conhecimento relevante. Esta premiação reforça esse papel pioneiro, inspirando futuras gerações de doutorandos do PPGCA a perseguirem com excelência os desafios de forma criativa e comprometida”, finalizou o professor.
Por: Paula Lima