Pesquisa da Uema foca nos patrimônios do Centro Histórico de São Luís
Por Assessoria de Comunicação Institucional em 25 de julho de 2024
“PATRIMÔNIOS DO NOSSO CENTRO: as práticas sócio-espaciais insurgentes e os programas de desenvolvimento do Centro Histórico de São Luís”. Esse é o tema da pesquisa de Jéssica Mendonça de Carvalho, fruto do Mestrado em Desenvolvimento Socioespacial e Regional da Universidade Estadual do Maranhão, que teve a orientação da Profa. Dra. Karina Biondi.
A pesquisa, que foi uma das premiadas no VII Prêmio Emanoel Gomes de Moura de Teses e Dissertações da Uema, tem o objetivo de evidenciar processos populares de apropriação do Centro Histórico de São Luís, partindo de uma investigação sobre as implicações das políticas de desenvolvimento urbano na reprodução sócio-espacial, desde o Programa de Preservação e Revitalização do Centro Histórico de São Luís – PPRCHSL (1979-2011) até o Programa Nosso Centro (2019).
Jéssica, que é capoeirista, brincante da cultura popular, adotante de casarão e moradora do Centro Histórico, contou que se encantou pelo Centro Histórico desde a época que cursou a graduação em Arquitetura e Urbanismo. “Com o tempo, construí outros vínculos com o território e com as pessoas, a partir do momento que passo a compor o movimento cultural como capoeirista e posteriormente quando adoto o Casarão nº 140 da Rua do Ribeirão e coordeno o projeto Casarão Porta e Janela, onde funciona meu escritório de arquitetura popular – o Porta e Janela – e o Tebas Bar e Café, certificado como Ponto de Cultura em 2023. A partir dessas experiências, passei a morar no Centro e por essa perspectiva, pude observar uma nova onda de transformações no Centro Histórico, com a incidência de políticas de desenvolvimento, as quais eram sentidas no cotidiano por todos que vivenciamos esse espaço”, disse ela.
A pesquisadora destacou que “a importância da pesquisa consistiu em evidenciar como os moradores, brincantes da cultura popular e trabalhadores informais veem e atuam no Centro Histórico, em evidenciar suas iniciativas, suas teorias e termos nativos, como avaliam as políticas públicas que incidem no território e como gingam com esses processos desenvolvimentistas. Sobretudo, penso que a pesquisa evidencia que são esses movimentos populares que agregam valor ao Centro Histórico e literalmente o mantém em pé, ocupado e vibrante”.
O principal resultado da pesquisa foi a sistematização de 15 iniciativas populares, chamadas de práticas sócio-espaciais insurgentes, no Centro Histórico de São Luís, que em sua diversidade trazem dados qualitativos riquíssimos sobre esse território tão importante para a cidade. “Foi oportuno construir esse registro de práticas culturais que se encontram ameaçadas”.
A pesquisa vem sendo absorvida e prestigiada no meio acadêmico e pela comunidade. “O processo de pesquisa estabeleceu e fortaleceu relações de confiança e referência com os parceiros de pesquisa, então cada vez mais eles me procuram para atuar como técnica na defesa de seus espaços, nos diálogos com o poder público. A pesquisa fortalece minha atuação profissional para além do campo acadêmico, respaldando minha atuação no Escritório Popular de Arquitetura e na coordenação do Casarão Porta e Janela”, ressaltou ela.
Atualmente, a pesquisa deu origem a artigos científicos, os quais a pesquisadora vem submetendo em congressos nacionais nas temáticas de Patrimônio cultural, Memória e Desenvolvimento urbano. “O horizonte é encaminhar a pesquisa para o doutorado, trazendo novas camadas de reflexão e contribuições para o campo de estudo de áreas centrais patrimonializadas”, frisou.
Jéssica enfatizou que o processo do estudo foi bastante desafiador. “A pesquisa se desenvolveu ainda nesse contexto pandêmico, com todos os agravantes do distanciamento social, ensino a distância e vulnerabilidade social e econômica. Pesquisar o que se vive apenas parece um caminho mais simples, porém justamente por isso, a responsabilidade é maior, o envolvimento é maior e sintetizar esse cotidiano em uma linguagem científica e acadêmica requer um esforço integral considerável. O território, por sua vez, me foi um ambiente muito favorável ao estudo: as pessoas são receptivas, críticas, sagazes e colaborativas. Encontrar minha voz e meu caminho de pesquisa em meio a tão impressionante projeto popular foi certamente uma missão que me engrandeceu como pesquisadora e pessoa”, realçou.
Para a Profa. Karina, “a pesquisa de Jéssica é inovadora por mapear e analisar todo um conjunto de práticas socioespaciais que conformam o patrimônio – material e humano – do centro de São Luís. O resultado oferece uma contribuição para os estudos urbanos, no geral, de várias áreas do conhecimento”.
Prêmio Uema de Teses e Dissertações
“Profundamente gratificante e inspirador”. São essas palavras que, segundo Jéssica, resumem a sua premiação no VII Prêmio Emanoel Gomes de Moura de Teses e Dissertações da Uema.
Ela, ainda, complementou: “me sinto orgulhosa e feliz, enquanto uma pesquisadora da Uema há 10 anos, de poder viver esse momento. Com todos os desafios e percalços, a Universidade me ofereceu estrutura e recursos para construir esse caminho e a isso eu sou grata. É um resultado e reconhecimento que partilho com toda a comunidade que colaborou na construção da pesquisa, desde a comunidade acadêmica, minha orientadora da graduação, a Profa. Marluce Wall, minha orientadora do PPDSR, Profa. Karina Biondi, a FAPEMA que subsidiou; aos parceiros do Centro, que nem tentarei citar a todos para não esquecer ninguém, mas simbolizo na figura da minha mestra de Capoeira, Mestra Samme, e da minha Iyalorixá Jô Brandão, duas mulheres ativistas que me inspiram e sustentam nesses fazeres. Por fim, que venha a tese!”.
A Profa. Karina contou que recebeu a notícia da premiação com muita satisfação: “ela coroa a dupla dedicação e esforço de Jéssica. Primeiro, em fazer jus aos modos como o centro, para além das intervenções estatais, é configurado por práticas populares, criativas e potentes de ocupação. Segundo, em fazer isso tudo com os rigores metodológico e teórico que uma produção científica exige”.
Por: Paula Lima