II Círculo de Palestras sobre Literatura Maranhense é realizado no Campus Caxias
Por Assessoria de Comunicação Institucional em 28 de junho de 2022
Foi realizado nesta segunda, 27, no auditório Leôncio Magno, Campus Caxias, o II Círculo de Palestras sobre Literatura Maranhense (Ciplim). O evento, que foi uma homenagem ao bicentenário da escritora maranhense Maria Firmina dos Reis, Foi organizado pela professora Solange Santana Guimarães Morais, diretora do Curso de Letras. O apoio foi do Curso de Letras, do Nuplim (Núcleo de Pesquisas em Literatura Maranhense) e do Lamid (Núcleo de Pesquisa, Arte e Mídia).
A palestra de abertura, intitulada “Maria Firmina dos Reis: uma maranhense abrindo caminhos para a escrita de mulheres negras no Brasil”, foi proferida pela professora Nágila Alves da Silva: “Ela nasceu em março de 1822, em São Luís. Aos 5 anos ficou órfã e foi morar em Guimarães, onde formou-se professora. Era autodidata. Aos 25 anos foi a 1ª mulher negra aprovada em um concurso público no Maranhão. Também a 1ª escritora que se posicionou contra a escravidão. Escreveu poesia, ficção, crônicas e ficou esquecida durante 100 anos, por ser mulher, negra e pobre”, explicou.
Segundo a pesquisadora, a obra”Úrsula”, de Maria Firmina, traz temas atuais, como violência, lugar de fala e mostra o negro de maneira humanizada, como protagonista. Cada capítulo é destinado a um personagem. Na literatura do século 19 o negro aparece silenciado ou em espaços de escravidão e essa foi a primeira obra abolicionista. A autora queria transformar o meio de algum modo. Lutava pelos direitos da mulher antes do surgimento do feminismo. A partir de 2006 as editoras passaram a publicar suas obras.
“Atualmente, escritores negros que produzem a literatura afro descendente; afro americana e brasileira, buscam mostrar o negro humanizado, com sentimentos, identidade resgatada, que ama sua ancestralidade e negritude”, conclui.
A aluna Maíra da Silva, do 9º período de Letras, comentou sobre a fala de Nágila: “Ela falou de forma profunda, até sentimental. A palestrante nos passou que, ao ter contato com Maria Firmina, conseguiu se identificar como negra. E sobre a importância da autora, que está no fato de ter sido a primeira negra a publicar um romance. Isso ajuda os leitores negros a se reconhecerem e se aceitarem”, acredita.
Em seguida, uma mesa redonda abordou duas obras de Josué Montello. A primeira foi o romance “Cais da Sagração”, apresentada pela professora Maria do Socorro Carvalho: “Ele foi escrito em Paris, publicado em 1971. Traz a descrição de todos os ambientes de sua cidade histórica através dos personagens Damião e Mestre Severino. Faz isso de modo que podemos perceber tudo. Nota-se a intimidade dele com São Luís. Através de lembranças do vivido e do testemunhado, com a técnica do “flashback”, a linearidade narrativa é quebrada, dando ao enredo um certo suspense. Josué não usa palavras eruditas, difíceis, mas termos maranhenses. Ele trabalha a perpetuação cultural através da memória”, disse
Logo depois houve uma fala sobre o livro “Os Tambores de São Luís”, pesquisado pela professora Meridalva Gonçalves: “Ele apresenta um drama psicológico com um grande número de negros envolvidos. Toda a história é contada em uma noite. O personagem Damião nos dá uma narrativa e percebe-se uma resistência do negro nas ações e nos discursos. É acionado um sentido de pertencimento”, ressalta.
A acadêmica Tamires Lauanda, do 6º período de Letras, se posicionou sobre o escritor maranhense: “Tive o primeiro contato com Josué Montello no Ensino Médio e tenho orgulho desse autor. Nas falas vimos que ele retrata a memória, a cultura e a geografia maranhenses através dos personagens. Ele não é limitado. Há uma vertente que precisa ser mais explorada, a infanto juvenil (como “O Tesouro de Dom José”, por exemplo), e estou trabalhando num artigo sobre isso”, comentou.
Em seguida, alunos do 8º período apresentaram um podcast sobre o Romantismo (1ª fase indianista).
Outra mesa redonda teve como tema “O teatro caxiense em cena: a trajetória do Grupo Teatral Sombras”. O assunto foi tratado pelos professores Elizeu Arruda de Sousa e Francinaldo de Jesus Morais. Segundo o professor Francinaldo: “Apesar do peso da oralidade, precisamos nos precaver dos labirintos da memória e buscar a escrita. O historiador precisa olhar para o passado (isso muitas vezes é perigoso e condenável). O presente nos gera insegurança, e devemos afastá-la com um olhar crítico. Naquela época havia uma conjuntura alimentada pelo processo constituinte de 1986. Não bastava apenas denunciar ou criticar, mas propor. O grupo ficou conhecido no Maranhão, no Nordeste.”, lembra.
O GTS (Grupo de Teatro Sombras) surgiu em 1987 depois de uma experiência da Secretaria de Cultura de Caxias que possibilitou contato com os diretores Aldo Leite e Tácito Borralho. Seus integrantes eram engajados na causa cultural da cidade. Para eles, cultura e política não podiam ser separadas. Os dramaturgos Augusto Boal (criador do Teatro do Oprimido) e Bertolt Brecht, cujas obras fugiam do interesse da elite dominante, serviam de inspiração ao grupo, visando esclarecer as questões sociais.
O professor Elizeu Arruda, que escreveu um livro sobre o grupo caxiense, se pronunciou: “Era uma gente nova e corajosa querendo um novo país. Tinham que ter uma formação e precisavam de leitura, uma preparação, para fazer um teatro com qualidade. Havia um cuidado com figurinos, iluminação. O Sombras não reproduzia apenas, mas produzia também. Fazia um teatro político”.
Luan Araújo, acadêmico do 8º período noturno de Letras, opinou: “É de muito valor o que ficamos sabendo sobre o Grupo Sombras. Cito dois pontos sobre ele; o primeiro é o valor como documento histórico que ele representa para a cidade e para a Academia, e o segundo, como herança cultural para a cidade e para os acadêmicos de Letras”, destaca.
Após as palestras foram realizadas diversas comunicações no auditório e em uma das salas do Campus.
Por: Emanuel Pereira