UEMA Literatura apresenta Poesia e Crônica
Por Assessoria de Comunicação Institucional em 3 de outubro de 2021
Neste domingo (03), o UEMA Literatura apresenta a poesia “Nada de mim”, de autoria do professor do departamento de Matemática e Informática, Luiz de Castro e a crônica “Insight”, escrita pela da acadêmica de Letras, Gabriela Lages Veloso.
Poesia – Nada de mim, por Luiz de Castro
Não sou mais que um sonho passageiro
Nem mais que um desejo ardente
Nem mais que a paz sonhada
Nem mais que um sorriso ausente
Não sou a espera que te fez aflita
Nem o desencanto da desesperança
Nem o martírio dos teus sofrimentos
Nem o zoar do vento em tua lembrança
Não sou, sequer, o som dos teus lamentos
Nem o molhar do rosto, quando choras
Nem o soluço teu, regado em lágrimas
Nem o seleto amor, que hoje imploras
Não sou o vazio que te enche o peito
Nem a ternura ausente do teu canto
Nem o olhar presente ressentido
Nem a amargura externa do teu pranto
Crônica – Insight[1], por Gabriela Lages Veloso
Em uma segunda-feira qualquer, um dia nublado e cinza, me encontro em um grande engarrafamento. Entro na primeira rua que encontro. Um atalho. Aparentemente um lugar comum, com pessoas comuns. Entretanto, nunca me esquecerei daquele lugar, da sensação de despertar para a realidade que me cerca.
Era uma rua estreita, muito estreita, com uma infinidade de pequenas lojas por todos os lados. Além de uma feira, uma borracharia, casas e uma igreja, que se destacava no ambiente, por suas dimensões e aparência impecável. Quantas pessoas… tantas pessoas vão e vêm freneticamente, todas com pressa, com um aspecto de cansaço e com várias sacolas, tantas sacolas quanto lojas, em um lugar que sem dúvida enfrenta graves problemas.
Tantas mães em plena adolescência, carregando seus filhos, outras crianças, no meio da rua estreita. Tento seguir com o meu carro, desviando de outros carros, carroças, bicicletas, motos e pessoas. Lá vem um ônibus. Percebo que todos que antes ocupavam a estreita rua se dispersam, sobem nas calçadas, entram nas ruas transversais. Como é a minha primeira vez nesse lugar, imito a ação. O ônibus segue seu curso e mais uma vez a rua estreita é tomada.
Algumas pessoas estão sentadas em suas portas, menosprezando os problemas das outras, afinal elas sofrem muito mais. Vejo uma jovem bem magra, extremamente suja, sentada na calçada da rua estreita, em meio ao lixo e o esgoto que escorre a céu aberto, conferindo as moedas que ganhou dos motoristas que por ali passavam. Ela já desistiu de pedir ajuda para os pedestres cheios de sacolas, pois sempre que chegam ao ponto da calçada em que ela se encontra, lançam um olhar de indiferença e desprezo, e atravessam a rua estreita, afinal eles não podem sustentar o vício (fome) que ela tem, pois eles têm muitas contas a pagar.
Dobro a esquina para sair da rua estreita, e me deparo com um muro pichado com o nome de uma facção criminosa. Vejo mais moradores sentados em suas portas. Lembro de uma notícia em que moradores como aqueles, em um bairro como aquele, foram expulsos de suas casas por traficantes que dominavam o lugar. Percebo que os rostos dos moradores deste estreito bairro têm uma mistura de medo e conformismo. Essa “é a eterna contradição humana”.
[1] Crônica originalmente publicada na Coletânea de Contos e Crônicas – Vencedores do Prêmio AMEI 2020